13.3.06

Kandahar

Estávamos no Bar Liverpool, um bar de atmosfera jovial onde as pessoas se encontram para conversar, jogar bilhar, etc. Esperávamos nossos amigos que não apareceram, ou pelo menos não os encontramos. Ficamos ali já que havia o desejo de sair um pouco, conversar, se divertir em um ambiente diferente que não fosse casa ou trabalho.

Encontramos muitos rostos conhecidos e desconhecidos também, alguns falavam conosco, outros apenas sorriam pela cumplicidade de estar ali em nome da diversão. No meio de tantas pessoas, jovens, adultos, gente em busca de um momento de digressão, encontramos um jovem estudante que anuncia: "Fui convocado para trabalhar em Kandahar". Falou tentando demonstrar tranquilidade, mas os seus gestos eram um tanto apreensivos.

Kandahar, no caso de alguém não saber, é uma das principais cidades do Afeganistão, depois de Kabul, a capital. O Canadá tem tropas de paz em Kandahar desde 2002, mas nos últimos meses a missão mudou um pouco de tática por conta de diversos ataques à base canadense neste país. Recebi a explicação que um soldado canadense ganha um bom salário e que recebe muito mais se for convocado para uma missão em outro país. Nos olhos daquele jovem, em meio a apreensão, em meio ao desejo de se divertir naquela noite de sexta-feira, havia um certo brilho de esperança. Sim, a esperança de que tudo correrá bem e ele poderá voltar para os braços da sua namorada, e ainda com melhores condições para comprar uma casa, um carro melhor, viajar para o sul.

Kandahar e Sherbrooke. Dois destinos tão diferentes mas que vão se encontrar nas ruas da primeira em guerra. Nas ruas da segunda, onde se vive a paz, a liberdade de ir e vir, onde podemos entrar em bares e nos divertir tranquilamente, vive-se sem o temor de sair e encontrar "inimigos".

Harper visita o Afgenistão
De 2002 até o presente momento onze soldados e um diplomata canadense perderam suas vidas em solo afegão. O Canada discute neste momento a continuação de sua missão de paz. O primeiro-ministro Stephen Harper faz uma visita surpresa a base canadense com o intuito de motivar os soldados. Não sei até que ponto esta atitude do primeiro-ministro podera mudar a situação destes soldados e de suas familias que os esperam aqui com muita apreensão. Mas sei que a retirada da missão de paz canadense certamente vai fazer muita falta para o sofrido povo afegão.

Atualização O problema é mais embaixo, como diriam algumas pessoas que conheço na minha amada Bahia. E o problema é mais embaixo mesmo. A despeito do meu post aí em cima, um tanto romântico e naïve, como se diz em francês, o problema da participação do Canadá no Afegnistão está bem ligado a um certo vizinho. Muitos canadenses criticam esta participação. Alguns arguemntos chegam a dizer que a guerra não é do Canadá e que as tropas canadenses não tem porque ficaram lá apenas para distribuir colchões e víveres. Bom, vejo nesta opinião algo que denominaria de "anti-orgulho bélico", não estou de acordo com esta perspectiva, mas de certa forma os argumentos tocam num ponto nelvrágico de uma certa dependência canadense à política do governo vizinho.

Um comentário:

Anônimo disse...

"A guerra"! As guerras que a humanidade se impõe são flagelos que fazem parte de sua evolução! Infelizmente o estágio em que o ser humano se encontra é baixíssimo diante de tal fato! Por outro lado, evoluímos tecnológicamente nestes 2000 anos, mil vezes mais que espiritualmente! De nada adianta toda e tanta tecnologia, sem um mínimo de piedade e amor no coração!