25.11.05

Uma boa pergunta

O jovem Kleumerson fez uma questão interessante na nossa comunidade de Brasileiros em Sherbrooke:

Olá Pessoal,

Estava lendo algumas informações na internet,que falava sobre a taxa de
empregabilidade no Quebec, ou seja, a província do Quebec possuem a maior taxa de desemprego ficando em torno de 8,7%.
Porém ainda não conseguir entender porque o governo incentiva a imigração.Pois desempregados não pagam impostos para o governo, será que realmente o Canadá não possuem pessoas qualificadas para disputarem as vagas em demanda que existe no canadá ? Qual é a verdadeira face desse processo de imigração?
Kleumerson


Com algumas modificações, trago aqui a resposta que deixei na comunidade:

De maneira geral você tem razão ao colocar esta questão, Klemeurson. Realmente nós devemos questionar porque o Canadá e mais particularmente o Québec incentivam a imigração se aqui existe desemprego?

A primeira coisa a ter atenção é que a taxa de desemprego do Canada é menor que na França, por exemplo. Outra coisa é que quando se fala de desemprego aqui no Canadá, nós precisamos olhar a situação de forma bem particular. Por exemplo, uma pessoa que sai da universidade com um diploma de professor pode não achar emprego em sua cidade ou região, mas uma outra cidade ou região pode oferecer vagas de emprego e não ter trabalhasor qualificado para este mesmo domínio.

Outra coisa que é bem clara aqui e que o programa de imigração não esconde, é o problema da diminuição da taxa de natalidade. Para se ter uma idéia nos anos 1970 a taxa de natalidade era de 141 224 e em 2004 é de 74 200. Reduziu pela metade! Isto significa que há um envelhecimento da população, dentro de 20 anos a populaçãao economicamente ativa estará em grande parte aposentada e fará mais uso do sistema de saúde.

O Québec precisa de novos trabalhadores para pagarem impostos para tratar dos seus aposentados. Na verdade precisa de gente, precisa de população que vai usufruir da estrutura e organização do Estado mas que também vai pagar por isso, por meio de impostos, taxas, etc., o que é absolutamente normal e aceitável dentro do modelo de sociedade que conhecemos como civilizada. Ao que parece, ainda não existe outro modelo melhor para vivermos dentro da "polis", ou cidade.

Então vai uma questão: Se o Canadá já sofre um problema com o seu sistema previdenciário, será que ele não tem o direito de escolher os seus futuros cidadãos? Será que deve abrir as portas e deixar todos entrarem?

Ou será que o país tem o direito de selecionar bem estes futuros cidadãos? De selecionar os que têm boa formação, boa educação e que são potencialmente motivados por novos desafios?

É isso.

23.11.05

Imigrar ou não imigrar, eis a questão?




Bom, após insistentes pedidos para que eu emita a minha opinião sobre a valorosa questão "Imigrar ou não imigrar?", cá estou eu para discorrer um pouco sobre a minha humilde opinião.

No post aí em cima, eu coloquei em linhas gerais o que penso sobre o programa de imigração do Québec e analiso suas razões e motivos de incientivar a vinda de imigrantes para a província. Mas o que devemos acentuar é que as razões e motivos do Québec, ou mesmo do Canadá, não são as mesmas razões e motivos de brasileiros que decidem imigrar.



O motivo desta reflexão é porque recebo muitas mensagens de pessoas que me pedem opinião sobre a região onde moro aqui no Québec. A maioria quer saber sobre estilo de vida, hábitos e também sobre mercado de trabalho.

A convite dos amigos Wal e Paulo, nós fomos assistir uma peça teatral apresentada por professores e alunos do curso de français para imigrantes oferecido aqui em Sherbrooke no CEGEP.

A peça chama-se "Chalabia"e, pessoalmente, não compreendi direito o tal título. Mas ao que tudo indica, é somente um nome imaginário para um país que recebe os seus imigrantes.

Sendo assim, a intenção da peça é mostrar um pouco da vivência e das algruras de pessoas que decidiram imigrar. O jovem que introduziu que deu a palavra inicial sobre a peçca fez um convite inusitado: "Imaginem que vocês, todos vocês habitam em um país onde não existe liberdade de expressão, onde a guerra e a miséria tomam conta da população e vocês resolvem se refugiar em outro país onde vocês nçao conhecem a língua nem a cultura..."

Foi mais ou menos com estas palvras que eles nos convidou a ter atenção na peça. Durante os quase 60 minutos de duração da peça vimos desfilar alguns estereótipos como:

- Os habitantes locais chamando os imigrantes de preguiçosos, de gente que vive da ajuda da assistência social, gente perigosa porque pode trazer doenças desconhecidas, etc.

- Mostrar que todo imigrante é uma vítima de guerras ou de pobreza em seu país, etc.

De qualquer forma a peça é emocionante e retrata bem a adaptação de um imigrante aqui no Québec: a dificuldade com a língua, os choques culturais, a saudade do país de origem, o encantamento com a neve e com a natureza diferente, etc.

A primeira coisa a remarcar é que a peça não faz diferença entre um imigrante e um refugiado. No primeiro caso, a pessoa paga caro e passa por um sistema de avaliação rigoroso para ter o direito de entrar no país com o visto de residente. No segundo caso, a pessoa não paga nada e é recebido como residente dentro de um acordo internacional de dar refúgio a pessoas que sofrem por guerras ou perseguições em seu país de origem. Acho que este foi o maior defeito da peça, onde muitos quebequenses podem não ter atentado para a diferença.

Então a peça, a despeito de todas as suas qualidades, boa performance dos autores amadores, boa direção, cenário, iluminação e um roteiro bem escrito, deixou a desejar neste apecto onde a imagem do imigrante ficou muito ligada ao fato dele ser uma pobre vítima que recebe as benesses de um país bom que o acolhe.

Não há dúvidas que no caso de um refugiado isto é bem verdade! Mas no caso do imigrante que escolhe o país, pesquisa, estuda sua cultura, estuda a língua e vem com um programa de imigração bem elaborado, bem definido e caro como o do Québec a história é outra!

Nem é preciso dizer os inúmeros problemas que um imigrante vai sofre num país estrangeiro. Alguns: o choque de culturas, a dificuldade de se expressar em outra língua que não a sua, a distância da família, amigos, etc. E uma coisa extremamente importante: a sensação de perda de identidade. Quem sou? O que faço aqui? São algumas perguntas que tomarão conta dos dias de um imigrante.



Após a peça tivemos um momento para o público fazer comentários e perguntas sobre o que foi apresentado.

Nas questões e comentários gostaria de destacar alguns:

- Uma francesa que falou da dificuldade de integração apesar dela já falar a mesma língua! Achei louvável a sua iniciativa de fazer um trabalho beneficente como professora de francês Ficou claro também que ela resolveu imigrar em buscas de novas experiências, novas perspectivas e não por motivo de guerras ou violência em seu país.

- Um jovem de El Savador que agradeceu a acolhida do Québec e falou que no início, como refugiado, viveu da ajuda da assistência social, mas hoje, após quatorze anos das sua chegada, ele estudou, tem diploma, trabalha e paga seus impostos!

- Uma professora quebequense que ensina na escola primária e falou da dificuldade de trabalhar com oito alunos estrangeiros na classe e que não dominam o francês!

Na mesa de discussão: uma brasileira que chegou aqui há seis meses, foi apresentada como advogada, natural de São Paulo. Ela falou com muita emoção sobre o progresso e a facilidade de integração dos seus filhos adolescentes. Segundo ela, eles falam francês como um quebequense.

Uma jovem mãe de origem latina, talvez colombiana, que também falou do progresso dos seus filhos e como eles têm mais facilidade para aprender uma nova língua. Ela estuda no CEGEP algo ligado a serviço social.

Uma mulher, que veio como refugiada da Síria que relatou a questão da perda de identidade, apesar dela já falar francês. Do fato de sentir anônima, desconhecida, sem a rede de amigos,trabalho e família.

Um psicólogo da Universidade de Sherbrooke que falou sobre o componente língua como marca da nossa identidade e da nosso reconhecimento como pessoa, como profissional, como ser social.

Por tudo isso, continuo a fazer a pergunta: Imigrar ou não imigrar?

Nada que eu venha responder vai ser algo definitivo, ou uma solução para todas as inquietações e dúvidas daqueles que me escrevem ou escrevem a tantos outros que já passaram pela experiência de imigrar. O importante é saber que esta decisão é muito pessoal, é sua, de mais ninguém e além disso, é você que terá que arcar com ela pelo resto da sua vida tendo imigrado ou não.

20.11.05

Timbalada en Sherbrooke!




Nunca pensei que viria para o Canadá para dançar a Timbalada. Mas cá estamos meus amigos Anderson, Nancy e eu a apresentar com a grande expectativa de todo o público uma coreagrafia da Timbalada.

Foi muito bom, não posso deixar de confessar. E lá em cima no palco, dançamos em pensar que outras pessoas nos aplaudiam. Nos sentimos no Carnaval da Bahia. E querendo, ou não, é mesmo contagiante, no ritmo, na alegria e na animação.


Um espetáculo multicultural




Finalmente chegou o grande dia do espetáculo multicultural. Uma idéia do Jean-Gabin, um jovem e brilhante estudante originário do Burundi, que imigrante residente em Sherbrooke e estudante do doutorado em educação (o que está de terno).

Com a participação de estudantes de quinze países, a noite foi explêndida. Tivemos a impressão de viajar pelo mundo e conhecer um pouco das pessoas, da cultura, da alegria e da beleza de cada país.

Não precisa nem dizer que quem se fez representar nesta grande festa cultural não foi o Canadá, mas sim o Québec. É só olhar qual a bandeira que estava lá.







Aqui, jovens colando a bandeira do seu país no último momento. Minha dúvida é: que país é este? Não consegui identificar esta bandeira.

O Brasil foi o quinto país a se apresentar, não estou bem certa, mas creio que foi isso. A nossa apresentação passou por uma longa história. Primeiro pensamos em apresentar uma quadrilha junina, feta típica do nordeste e que algumas outras regiãoes também aderem. Depois, por conta do pequeno número do grupo, e por atestamos que o tempo seria curto para ensaios e os nossos amogos quebequenses não têm lá muito talento para a dança, decidimos apresentar o frevo. O frevo, como todo brasileiro sabe é uma dança e música típica do Estado de Pernambuco.

Bom, seria o frevo, mas aí nos demos conta que também não éramos tão bom dançarinos de frevo assim e ficaria difícil aprender vários passos em menos de um mês. Depois do Halloowen, Anderson e eu decidimos que apresentaríamos o Terno de Reis porque ele tinha feito uma fantasia para o Halloowen que lembrava o tipo de vestimenta para esta festa típica. Começamos a pesquisar e descobrimo que o Terno de Reis tem sua origem na região de Açores, Portugal, e que esta festa acontece em várias partes do Brasil, inclusive em Santa Catarina. Anderson já participou de Terno de Reis na sua infância, Nancy e eu, conhecíamos apenas de ver na televisão ou em livros sobre folclore. Também já ouvira minha mãe falar muito sobre esta festa que acontece no dia 6 de janeiro.

Pesquisamos músicas, detalhes sobre a festa, etc. Mas depois também nos demos conta que o que dá beleza a esta festa são as músicas cantadas, os instrumentos, e o encontro das pessoas em cada casa. Como fazer uma apresentação como esta com três pessoas?

Finalmente decidimos apresentar o carnaval da Bahia. Timbalada. Foi um sucesso como sempre. Ritmo, alegria, muito movimento de corpo. Pronto. Era isso. Nada difícil para três baianos que já pularam muito carnaval.

19.11.05

Hoje tem espetáculo!

Hoje é o grande dia do Espetáculo multicultural. Cada país vai se fazer representar por uma arte: música, dança, literatura, teatro, humor, etc.

Vocês estão convidados!

11.11.05

Abraço




A vida me abraça,
e eu, eu sinto o seu calor,
a sua força, a sua ternura.
A cada dia ela pulsa
dentro de mim
e fora de mim.
A vida nasce,
a vida cresce,
desenvolve-se,
reproduz-se.
A vida morre.

10.11.05

Entre viver e morrer

Um estava no leito de hospital. Sua vida se esvaia a cada segundo. Era levado para a U.T.I., a família acompanhava atenta e preocupada, mas havia esperança. Jamais se consegue imaginar que um ente querido vai nos deixar. A esperança aumentava a cada sinal de melhora. Um gesto, um movimento de olhos, tudo podia significar que o pior já havia passado.

O outro vivia os seus plenos vinte e poucos anos. Namorada, amigos, carro, viagem, som alto no carro. Trabalho, iniciativa; era um pequeno e bem sucedido empresário. Planejava uma grande liquidação. Estava na sua loja, localizada num bairro populoso da cidade. Um telefona numa noite de março. Foi encontrado morto com uma arma ao seu lado. Era suicídio.

Um lutava pela vida. Outro lutou para deixar de viver.

Para um, o sofrimento era presente. Estava ali no diagnóstico e em todos os sintomas de uma rápida degeneração. Para o outro o sofrimento era desconhecido, e só após o fato consumado, a família (pais, irmãos), puderam se dar conta de que os sinais da dor já estavam presentes, mas não evidentes.

Assim, em março de 2005 Naelson resolveu por fim ao seu sofrimento psicólogico. Escolheu morrer. Era uma dor intensa que ele ocultava no seu dia a dia. Os sinais eram mínimos e só puderam ser detectados após o ocorrido. Ninguém podia pensar que aquele jovem bem-humorado, que parecia feliz com a sua vida decidiria um dia por fim a sua vida.

Em novembro de 2005, Rômulo se foi. Seu corpo e sua mente lutaram até o último momento por sua vida. A luta teve fim.

A luta de um e de outro, um para continuar vivo, outro para por fim a uma dor desconhecida, mas infinitamente forte, que tirava as cores dos seus dias, que tornava sua vida sem sentido.

A luta por viver. A luta por morrer, já que a morte parecia a única resposta para algo que ele mesmo não compreendia.

Em março de 2005, Naelson, meu primo que vi criança, cometeu suicídio. Ninguém sabe os verdadeiros motivos, mas se soube depois, ligando fatos, palavras, atitudes, que ele sofria. Nunca tive coragem de falar sobre isso porque eu mesma não conseguia acreditar que algo assim pudesse acontecer com alguém que tanto amo. Mas aconteceu e de alguma forma quando algo assim se passa, nós nos perguntamos, eu me pergunto: "Algum dia eu conversei com ele algo que não fosse amenidades? Algum dia eu lhe falei o quanto o amava?"

9.11.05

Ainda sobre a vida e sobre a morte

Era um menino tímido, magro, amava desenhos animados. Era afetuoso. Acordava, preparava seu café, sem leite, ou preto, como costumávamos dizer quando criança, esquentava o pão ali, no fogo mesmo. São imagens que reti da minha infância com ele. Enquanto brincávamos, seus irmãos, Rosangela e Romildo, e eu, corríamos pelo quintal, inventávamos mil brincadeiras, ele amava seus desenhos.

Cresceu e se tornou um jovem inteligente, comunicativo, não havia como não gostar da sua companhia, alegre, calorosa, divertida. Tornou-se um jovem sociável, apesar da infância diante da TV, amava estar entre amigos, amava as pessoas. Inteligente e ativo, amava estudar, amava seu trabalho. Amava viver. Viveu intensamente todos os momentos, sempre contagiando os outros com o seu bom humor, com seu dinamismo.

Gostava de computação gráfica. Foi trabalhar num grande jornal em Salvador.

Num dia sentiu um desmaio, estava em casa de férias. Seus pais o levaram para o hospital, os sintomas levavam a crer que seria um derrame cerebral, ou um aneurisma. Não era, era mais do que isso, era um tumor que levou sua vida, sua alegria, seus movimentos, sua capacidade de comunicar-se com os outros.

Mas foi como um verdadeiro guerreiro que lutou até o último minuto por sua vida. Foram três meses de dor e sofrimento.

Ontem ele se foi para os braços de Deus.

Hoje dia 08.11.05 às 09:40, perdemos mais um ente querido, nosso Primo Romulo após 3 meses de luta. O Guerreiro resolveu descansar, entregou os pontos.
Sinto muito em te dar esta informação, porem é preciso.

Luis Carlos Adorno


Considero a mensagem que recebi do meu primo Luis Carlos uma grande homenagem ao nosso primo Rômulo.

Viver e morrer

Grande parte das pessoas não gosta de pensar na morte, não fala sobre a morte. Noto que aqui na América do Norte, por as pessoas serem mais materialistas este tema é visto com mais naturalidade. Não por todo mundo é claro! Mas o certo é que a morte faz parte da vida.

É assim que o pai de um amigo, por exemplo, começou a falar a sua família sobre os preparativos para o seu funeral. Ele deseja ser incinerado, ou cremado, ele não deseja que seu corpo seja exposto para outros verem e lamentarem. Ele não é católico e não deseja que seja feita nenhuma cerimônia religiosa. Na verdade ele gostaria que fosse realizada uma cerimônia indígena, mas ele mesmo não está muito à par de como isto pode ser feito. A família não tem contato com indígenas.

Talvez na América do Sul, e mais especificamente no Brasil, o nosso sentimento sobre a morte seja encoberto num tom de mistério, dor, sofrimento. Aqui noto que as pessoas trabalham melhor com este elemento que é morrer. É só minha observação pessoal. Não tenho dados para comprovar. Mas é um pouco da minha vivência com as pessoas. Poderíamos dizer que os americanos são mais frios em relação a este tema? Não, acredito que não. É apenas uma forma diferente de trabalhar o conceito de morrer. Nós brasileiros, e aqui também é minha visão empírica, somos mais religiosos, mas ao mesmo tempo a morte é ainda um tema envolto em mistério e pesar, simplesmente não gostamos de tratar deste assunto.

Pensar nos ritos de morte, preparar testamento, um seguro de vida, torna-se um terror para muitas pessoas. Por isso mesmo, uma das profissões mais difíceis é ser vendedor de seguro de vida. Não é fácil falar para uma pessoa que ela pode morrer de repente e que ela precisa deixar os seus familiares em segurança. Falar de morte pois, é uma arte que estes profissionais costumam desenvolver.

Para nós pode parecer estranho o fato de que os norte-americanos têm, por exemplo, um profissional que é maqueador de cadáveres. Em geral o corpo da pessoa fica exposto em um local reservado para a visitação por vários dias, então o corpo passa por uma espécie de mumificação (não encontro o termo certo, agora), e a pessoa é maquiada dando-lhe uma aparência de vida.

O caso é que mesmo a morte se capitalizou, poderemos dizer desta forma. Ou ainda, a morte é algo tão doloroso, tão triste, que dentro desta sociedade que valoriza tanto a beleza física, procura-se uma forma de eternizá-la nos últimos momentos que o ente querido peramenece neste mundo, representado por seu corpo. Parece obrigatório que ele se apresente com uma boa aparência. Mesmo no Brasil temos hábitos assim; o morto, via de regra, é sempre vestido com o que há de melhor em seu guarda-roupa. É também uma forma de não aceitação da morte, penso eu.

6.11.05

O pássaro que esqueceu de viajar - Parte II


Parece que o nosso pássaro não ficou sozinho, há outros de seus amigos por aqui. São jovens e pelo visto resolveram arriscar e passar o inverno em Sherbrooke. É possível que alguns merles sobrevivam ao inverno canadense, há mesmo alguns desta espécie que ficam no Jardim Botânico de Montréal durante o inverno, segundo informações que encontrei neste site.

Os pássaros adquirem novos costumes. Eles desenvovlvem a sua forma de se relacinar com a natureza! As gaivotas, por exemplo, vivem na cidade. Todos os dias avistamos numerosas delas em nosso trajeto. Ao anoitecer, procuram um lugar seguro para dormir; dormem todas juntas, talvez porque seja uma forma de protegerem-se umas às outras. De manhã bem cedo elas voam unidas e vão em busca de alimentos. Vivem nas cidades, tiveram que se afastar do mar, seu habitat natural, em razão da poluição. Mudaram seus hábitos de alimentação também, agora comem tudo que vêem pela frente, até mesmo guardanapos com cheiro de frituras ou doces. Em razão desta mudança alimentar, certamente vivem menos e são menos saudáveis. Outra consequência interessante é que suas fezes causam um dano tremendo para os veículos: causam uma corrosão mais rápida.

É certo que os donos dos veículos não ficam nada satisfeitos. Mas pensem no que os donos destes veículos, ou seja, nós entes humanos já causamos à natureza?

Agora os pássaros voam num céu cheio de poluição.