9.11.05

Viver e morrer

Grande parte das pessoas não gosta de pensar na morte, não fala sobre a morte. Noto que aqui na América do Norte, por as pessoas serem mais materialistas este tema é visto com mais naturalidade. Não por todo mundo é claro! Mas o certo é que a morte faz parte da vida.

É assim que o pai de um amigo, por exemplo, começou a falar a sua família sobre os preparativos para o seu funeral. Ele deseja ser incinerado, ou cremado, ele não deseja que seu corpo seja exposto para outros verem e lamentarem. Ele não é católico e não deseja que seja feita nenhuma cerimônia religiosa. Na verdade ele gostaria que fosse realizada uma cerimônia indígena, mas ele mesmo não está muito à par de como isto pode ser feito. A família não tem contato com indígenas.

Talvez na América do Sul, e mais especificamente no Brasil, o nosso sentimento sobre a morte seja encoberto num tom de mistério, dor, sofrimento. Aqui noto que as pessoas trabalham melhor com este elemento que é morrer. É só minha observação pessoal. Não tenho dados para comprovar. Mas é um pouco da minha vivência com as pessoas. Poderíamos dizer que os americanos são mais frios em relação a este tema? Não, acredito que não. É apenas uma forma diferente de trabalhar o conceito de morrer. Nós brasileiros, e aqui também é minha visão empírica, somos mais religiosos, mas ao mesmo tempo a morte é ainda um tema envolto em mistério e pesar, simplesmente não gostamos de tratar deste assunto.

Pensar nos ritos de morte, preparar testamento, um seguro de vida, torna-se um terror para muitas pessoas. Por isso mesmo, uma das profissões mais difíceis é ser vendedor de seguro de vida. Não é fácil falar para uma pessoa que ela pode morrer de repente e que ela precisa deixar os seus familiares em segurança. Falar de morte pois, é uma arte que estes profissionais costumam desenvolver.

Para nós pode parecer estranho o fato de que os norte-americanos têm, por exemplo, um profissional que é maqueador de cadáveres. Em geral o corpo da pessoa fica exposto em um local reservado para a visitação por vários dias, então o corpo passa por uma espécie de mumificação (não encontro o termo certo, agora), e a pessoa é maquiada dando-lhe uma aparência de vida.

O caso é que mesmo a morte se capitalizou, poderemos dizer desta forma. Ou ainda, a morte é algo tão doloroso, tão triste, que dentro desta sociedade que valoriza tanto a beleza física, procura-se uma forma de eternizá-la nos últimos momentos que o ente querido peramenece neste mundo, representado por seu corpo. Parece obrigatório que ele se apresente com uma boa aparência. Mesmo no Brasil temos hábitos assim; o morto, via de regra, é sempre vestido com o que há de melhor em seu guarda-roupa. É também uma forma de não aceitação da morte, penso eu.

Um comentário:

Alexandre Costa disse...

Elyene
Em algum tempo de nossa história humana, alguém disse (igreja) que a morte é algo ruim que temos de temer. Isto está errado, devemos tratá-la da maneira mais natural possível para não sofrermos durante a vida.
Quando nascemos já estamos morrendo, pois é um fato inexorável na nossa vida.