15.12.05

sobre uma aventura no frio e o desejo de imigrantes

Eu fiquei perdida no frio somente para comprar goiabada. É verdade, e ainda por cima encontrei uma goiabada que veio dos Estados Unidos, importada da República Dominicana. Bom, por lá devem haver boa bananas porque a goiabada tem gosto de goiabada.

Mas é isso. Foi uma grande aventura. Peguei o ônibus 8 que sai da Universidade de Sherbrooke, via Centre Ville, em busca do endereço 980, rue Galt Ouest. Queria encontrar a Épicerie Izalco, uma loja especializada em produtos importados. Até já passei diante desta loja várias vezes, mas o meu problema é o meu terrível senso de localização. Então fiquei a olhar a numeração pois sabia que ela estava em sentido descendente na direção do centro da cidade. Mas não sei lá por qual motivo, resolvi pedir a parada do ônibus quando estávamos no número 1400 e qualquer coisa.

Foi o fim! O caso é que estava a milhas distante da tal loja e, pior, o ônibus entra numa bifurcação e pára numa outra rua, a Mcmanamy. Fiquei andando para lá e para c;a quando me dei conta do fato. Resolvi voltar à Galt Ouest para me localizar. Rezava para aparecer alguém na rua que pudesse me dar a informação correta, e nada. Finalmente encontrei um rapaz todo empacotado (com matôs, toca, luva, eu também estava do mesmo jeito) e ainda com fones no ouvido. Tive que me aproximar muito para que ele me escutasse e fiquei com aquela sensação estranha: Será que ele vai pensar que vou atacá-lo ou qualquer coisa parecida? Mas correu tudo bem. O problema é qu o rapaz me deu a direção errada. Fui parar numa loja de produtos asíaticos, ainda entrei pois em geral encontra-se produtos de várias partes do mundo nestas lojas.

Tinha uma goibada lá sim, mas era suco e estava vencida. Quando entrei na loja havia um jovem africano um tanto antipático, achei. Ele não foi muito agradável com a atendente da loja. Desagradável mesmo e ela, meu Deus, ela foi paciente e hipereducada. Não sei se faria o mesmo. Bom, mas respirei fundo e resolvi perguntar-lhe se ele conhecia a tal loja Izalco. Ele conhecia sim, e foi simpático comigo a sua maneira. Pegamos o ônibus 8 e depois de andar uns dez minutos, chegamos à loja Izalco. Ele entrou na loja, falou com o proprietário e saiu sem me dar tempo de dizer-lhe, obrigada!

Estava tão congelada que acho que nem conseguia pensar direito. Mas enfim, comprei a goiabada e ainda encontrei polpa de maracujá.

É preciso dizer que toda esta aventura foi movida pelo desejo de encontrar produtos da terra brasilis, mas foi também pelo objetivo da fazer uma sobremesa para a festa do final do curso de francês e para o almoço entre colegas na quinta. E o pior, é que a tal receita com a goiabada era um suflê, que virou um doce comum, porque o suflê, coisa que eu não sabia, é algo para se tirar do forno e servir.

É isso. Mas levei o doce de goiaba para a festa do curso de francês e foi muito apreciado. Um detalhe importante, confesso, comprei farinha de mandioca que veios dos Camarões e é terrível, nem de longe se parece com a nossa farinha. Parece farinha de trigo de tão suave. Horrível, paguei quase 8 dólares e vou usar para fazer cola.

Disse uma vez a minha amiga Wal que desejo de imigrante parece desejo de grávida. No Brasil eu nem me interessava por comer farinha, aimpim, caruru, vatapá, feijoada, mas aqui tenho saudades de tudo e corro todos os cantos para encontrá-los. Agora já encomendei a farinha de mandioca brasileira em duas lojas de produtos importados. Vamos ver se vai chegar realmente.

Um comentário:

Luis disse...

Cara Elyene,

Como em tudo nesta vida, a gente só dá valor pras coisas que perde...

Abraços, Luís.