10.11.05

Entre viver e morrer

Um estava no leito de hospital. Sua vida se esvaia a cada segundo. Era levado para a U.T.I., a família acompanhava atenta e preocupada, mas havia esperança. Jamais se consegue imaginar que um ente querido vai nos deixar. A esperança aumentava a cada sinal de melhora. Um gesto, um movimento de olhos, tudo podia significar que o pior já havia passado.

O outro vivia os seus plenos vinte e poucos anos. Namorada, amigos, carro, viagem, som alto no carro. Trabalho, iniciativa; era um pequeno e bem sucedido empresário. Planejava uma grande liquidação. Estava na sua loja, localizada num bairro populoso da cidade. Um telefona numa noite de março. Foi encontrado morto com uma arma ao seu lado. Era suicídio.

Um lutava pela vida. Outro lutou para deixar de viver.

Para um, o sofrimento era presente. Estava ali no diagnóstico e em todos os sintomas de uma rápida degeneração. Para o outro o sofrimento era desconhecido, e só após o fato consumado, a família (pais, irmãos), puderam se dar conta de que os sinais da dor já estavam presentes, mas não evidentes.

Assim, em março de 2005 Naelson resolveu por fim ao seu sofrimento psicólogico. Escolheu morrer. Era uma dor intensa que ele ocultava no seu dia a dia. Os sinais eram mínimos e só puderam ser detectados após o ocorrido. Ninguém podia pensar que aquele jovem bem-humorado, que parecia feliz com a sua vida decidiria um dia por fim a sua vida.

Em novembro de 2005, Rômulo se foi. Seu corpo e sua mente lutaram até o último momento por sua vida. A luta teve fim.

A luta de um e de outro, um para continuar vivo, outro para por fim a uma dor desconhecida, mas infinitamente forte, que tirava as cores dos seus dias, que tornava sua vida sem sentido.

A luta por viver. A luta por morrer, já que a morte parecia a única resposta para algo que ele mesmo não compreendia.

Em março de 2005, Naelson, meu primo que vi criança, cometeu suicídio. Ninguém sabe os verdadeiros motivos, mas se soube depois, ligando fatos, palavras, atitudes, que ele sofria. Nunca tive coragem de falar sobre isso porque eu mesma não conseguia acreditar que algo assim pudesse acontecer com alguém que tanto amo. Mas aconteceu e de alguma forma quando algo assim se passa, nós nos perguntamos, eu me pergunto: "Algum dia eu conversei com ele algo que não fosse amenidades? Algum dia eu lhe falei o quanto o amava?"

Um comentário:

Alexandre Costa disse...

É realmente doloroso saber que não tivemos chance de ajudar alguém que precisava de nós. Mas desejo que vc tenha forças para continuar. Agora, seu primo te acompanha lá de cima.
Abraços.

Alexandre