23.11.05

Imigrar ou não imigrar, eis a questão?




Bom, após insistentes pedidos para que eu emita a minha opinião sobre a valorosa questão "Imigrar ou não imigrar?", cá estou eu para discorrer um pouco sobre a minha humilde opinião.

No post aí em cima, eu coloquei em linhas gerais o que penso sobre o programa de imigração do Québec e analiso suas razões e motivos de incientivar a vinda de imigrantes para a província. Mas o que devemos acentuar é que as razões e motivos do Québec, ou mesmo do Canadá, não são as mesmas razões e motivos de brasileiros que decidem imigrar.



O motivo desta reflexão é porque recebo muitas mensagens de pessoas que me pedem opinião sobre a região onde moro aqui no Québec. A maioria quer saber sobre estilo de vida, hábitos e também sobre mercado de trabalho.

A convite dos amigos Wal e Paulo, nós fomos assistir uma peça teatral apresentada por professores e alunos do curso de français para imigrantes oferecido aqui em Sherbrooke no CEGEP.

A peça chama-se "Chalabia"e, pessoalmente, não compreendi direito o tal título. Mas ao que tudo indica, é somente um nome imaginário para um país que recebe os seus imigrantes.

Sendo assim, a intenção da peça é mostrar um pouco da vivência e das algruras de pessoas que decidiram imigrar. O jovem que introduziu que deu a palavra inicial sobre a peçca fez um convite inusitado: "Imaginem que vocês, todos vocês habitam em um país onde não existe liberdade de expressão, onde a guerra e a miséria tomam conta da população e vocês resolvem se refugiar em outro país onde vocês nçao conhecem a língua nem a cultura..."

Foi mais ou menos com estas palvras que eles nos convidou a ter atenção na peça. Durante os quase 60 minutos de duração da peça vimos desfilar alguns estereótipos como:

- Os habitantes locais chamando os imigrantes de preguiçosos, de gente que vive da ajuda da assistência social, gente perigosa porque pode trazer doenças desconhecidas, etc.

- Mostrar que todo imigrante é uma vítima de guerras ou de pobreza em seu país, etc.

De qualquer forma a peça é emocionante e retrata bem a adaptação de um imigrante aqui no Québec: a dificuldade com a língua, os choques culturais, a saudade do país de origem, o encantamento com a neve e com a natureza diferente, etc.

A primeira coisa a remarcar é que a peça não faz diferença entre um imigrante e um refugiado. No primeiro caso, a pessoa paga caro e passa por um sistema de avaliação rigoroso para ter o direito de entrar no país com o visto de residente. No segundo caso, a pessoa não paga nada e é recebido como residente dentro de um acordo internacional de dar refúgio a pessoas que sofrem por guerras ou perseguições em seu país de origem. Acho que este foi o maior defeito da peça, onde muitos quebequenses podem não ter atentado para a diferença.

Então a peça, a despeito de todas as suas qualidades, boa performance dos autores amadores, boa direção, cenário, iluminação e um roteiro bem escrito, deixou a desejar neste apecto onde a imagem do imigrante ficou muito ligada ao fato dele ser uma pobre vítima que recebe as benesses de um país bom que o acolhe.

Não há dúvidas que no caso de um refugiado isto é bem verdade! Mas no caso do imigrante que escolhe o país, pesquisa, estuda sua cultura, estuda a língua e vem com um programa de imigração bem elaborado, bem definido e caro como o do Québec a história é outra!

Nem é preciso dizer os inúmeros problemas que um imigrante vai sofre num país estrangeiro. Alguns: o choque de culturas, a dificuldade de se expressar em outra língua que não a sua, a distância da família, amigos, etc. E uma coisa extremamente importante: a sensação de perda de identidade. Quem sou? O que faço aqui? São algumas perguntas que tomarão conta dos dias de um imigrante.



Após a peça tivemos um momento para o público fazer comentários e perguntas sobre o que foi apresentado.

Nas questões e comentários gostaria de destacar alguns:

- Uma francesa que falou da dificuldade de integração apesar dela já falar a mesma língua! Achei louvável a sua iniciativa de fazer um trabalho beneficente como professora de francês Ficou claro também que ela resolveu imigrar em buscas de novas experiências, novas perspectivas e não por motivo de guerras ou violência em seu país.

- Um jovem de El Savador que agradeceu a acolhida do Québec e falou que no início, como refugiado, viveu da ajuda da assistência social, mas hoje, após quatorze anos das sua chegada, ele estudou, tem diploma, trabalha e paga seus impostos!

- Uma professora quebequense que ensina na escola primária e falou da dificuldade de trabalhar com oito alunos estrangeiros na classe e que não dominam o francês!

Na mesa de discussão: uma brasileira que chegou aqui há seis meses, foi apresentada como advogada, natural de São Paulo. Ela falou com muita emoção sobre o progresso e a facilidade de integração dos seus filhos adolescentes. Segundo ela, eles falam francês como um quebequense.

Uma jovem mãe de origem latina, talvez colombiana, que também falou do progresso dos seus filhos e como eles têm mais facilidade para aprender uma nova língua. Ela estuda no CEGEP algo ligado a serviço social.

Uma mulher, que veio como refugiada da Síria que relatou a questão da perda de identidade, apesar dela já falar francês. Do fato de sentir anônima, desconhecida, sem a rede de amigos,trabalho e família.

Um psicólogo da Universidade de Sherbrooke que falou sobre o componente língua como marca da nossa identidade e da nosso reconhecimento como pessoa, como profissional, como ser social.

Por tudo isso, continuo a fazer a pergunta: Imigrar ou não imigrar?

Nada que eu venha responder vai ser algo definitivo, ou uma solução para todas as inquietações e dúvidas daqueles que me escrevem ou escrevem a tantos outros que já passaram pela experiência de imigrar. O importante é saber que esta decisão é muito pessoal, é sua, de mais ninguém e além disso, é você que terá que arcar com ela pelo resto da sua vida tendo imigrado ou não.

Um comentário:

Rafael disse...

Ola,

Achei muito pertinente o seu texto. Eu tambem gostaria de tecer alguns breves comentarios a repeito de imigracao. Sem duvida, e uma das escolhas mais importantes da vida. Para muitos de nos que decidimos fazer este programa de imigracao de Quebec temos uma vida relativamente boa no Brasil, temos curso superior, uma certa condicao financeira etc. Mas, no meu caso, oque me leva querer ir morar em um lugar como Canada e a tranquilidade que temos ao sair na rua, a honestidade das pessoas, a valorizacao do seu trabalho e outras coisas mais. Mas esta questao que vc sempre sera imigrante em um outro pais, saber que aquele nao e o seu povo, que esta nao e a sua lingua, isto talvez seja o mais dificil. Eu ja morei 5 anos no Hawaii. Fiz faculdade la, e por mais que as pessoas achem isto fantastico, a realidade e que eu nunca me senti em casa. Tudo e bonito, tudo e legal, mas aquele povo nao e o meu povo. Tive propostas de emprego para ficar, mas decidi voltar. Agora penso novamente em sair, quero ir com minha esposa para Quebec. Estamos juntando os documenos para dar entrada nos papeis. Eu nunca consgui me adptar com a cultura Americana, The American Way of Life, nao sei como e em Quebec, acredito que ai as pessoas sao mais amistosas, mais afetivas. Na verdade eu quero ir com a intencao se fazer deste pais o meu pais, de sair na rua e nao me achar diferente deles. Talvez vcs que ja estao em Quebec, possam me sanar esta duvida sobre a adptacao, a o acolhimento do povo de Quebec.
Abraco a todos