7.6.05

Montréal

O que é a cidade de Montréal senão uma cidade alegre e festiva sem igual? Em cada canto da cidade uma festa. O sol maravilhoso da primavera, as belas paisagens, as escadas externas das casas nos bairros residenciais da grande cidade.

Avenidas imensas que lembram a nossa grande São Paulo cercada de arranha-céus. Um clima de vida pulsante, de juventude, de felicidade. O sol de junho aquece os corações e semeia uma vibração intensa de sorrisos, olhares, vozes de uma Torre de Babel alucinante e bonita.

O comércio, as ruas, o centro da cidade. Artesãos que se espalham nas calçadas,mas tudo muito bem organizado, nada qu impeça a passagem dos numerosos passantes que circulam pelas ruas. Bandeiras, do Brasil, do mundo. Assim é Montréal, inquieta e delirante. Um lugar pulsante.

Quando cheguei à Montréal em 25 de setembro de 2004, em pleno início do outono, a cidade já era menos pulsante, mas ainda assim visitei o Mercado Jean Talon e quase não acreditei na imensa diversidade de frutas, legumes que vi por lá. Comi milho cozido e os filhos de Marie Hélène, minha amiga, queriam saber se eu sabia fazer pamonha! Receita que a mãe conheceu no Brasil e conseguiu encontrar em Montréal. Na época eu não tinha idéiea, mas estes oito meses no Canada conseguiram fazer com que eu refinasse o meu pouco talento para cozinhar. Agora já sei fazer até feijoada e caruru, imaginem!

Mas agora é primavera, o verão que se anuncia, e Montréal está em festa. Quase lembra Salvador ou Rio de Janeiro em razão da quantidade de atividades artísticas e culturais. O grande Festival de Jazz de Montréal acontece no mês de julho. Não há quem fique parado nesta cidade. Música para todos os lados e tudo gratuito. É uma festa.

Como toda grande cidade Montréal tem o seu lado triste e sombrio. Drogas, traficantes, pessoas que vivem nas ruas. Jovens que vivem nas ruas, eu os vi, acompanhados de seus cachorros, fiéis e amigos. Li um artigo da pesquisadora brasileira, psiquiatra, Ligia Costa Leite , ela fez um estudo comparativo sobre os jovens de rua do Rio de Janeiro e os jovens que vivem nas ruas em Montréal. No seu estudo ela mostra que os jovens e crianças de rua do Brasil vivem nas ruas por falta de opçaão. Em Montréal dá-se justamente o contrário, os moradores de rua são chamados de itinerantes e, em muitos casos, são de famílias de classe média e abastadas. Optaram viver nas ruas como uma forma de negar a sociedade vazia e de consumo. Muitos pais não tinham tempo de lhes dar amor e carinho e os presenteavam com brinquedos e roupas caras. Eles negam toda a sociedade de consumo. Muitos são viciados e vivem pedindo dinheiro para sustentar o vício.


É isso, talvez num país onde as instituições funcionem, onde a vida é organizada, as pessoas, principalmente os mais novos, seguem em busca do caos para definir um sentido para a vida. Ou perdem completamente este sentido. como mostra a Ligia Costa Leite, os itinerantes são sustentados pelo governo, têm uma ajuda mensal. No Québec também há diversas instituições que prestam ajuda aos itinerantes. Exatemnte tudo o que não temos no Brasil, pelo contrário, no Brasil temos instituições ineficazes. Infelizmente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Cara Elyene,

Não perde nunca tempo. Suas observações são cheias de generosidade, até quando retrata algum lado sombroso das coisas. Parece trazer alegria consigo e projetá-la para todo mundo que percorre.

Porém, não pode ver além das portas cerradas das casas, tampouco dentro dos cérebros. Já falei noutro lugar sobre a solidariedade familiar e social. O caso dos itinerantes constitui um bom exemplo.

Até os anos 1970 os hospitais psiquiátricos hospedavam os doentes na base da doença mental mesmo quando estes não estavam perigosos. Nos anos 1970 entrou em vigor um novo critério para se manter os doentes dentro do hospital, a saber o da periculosidade. Desde então não se detém ninguém que não esteja perigoso para outrem ou para si mesmo. Há-se de mandar embora do hospital com medicamentos qualquer outro doente.

Mas um doente pode ser insuportável à família ou julgado tal mesmo que não seja julgado perigoso, pelo menos sem alguma ajuda à família. Assim é que muitos doentes acabam itinerantes. Dizem que se trata da maioria deles.

Itinerantes há que o são por vontade de liberdade, sim, mas ainda mais numerosos seriam os que vagam à toa mal disfarçando o sofrimento interior por falta de ajuda eficaz. Não se pode, de uma olhada de relance, perceber a diferença entre as duas categorias.

Eis aqui um dos fatores que explica a alta taxa de suicídios: alguma fraqueza emotiva ou mental junta com falta de solidariedade familiar e social e a confiança desmedida nas instituições.

Brasileiras me disseram ter sido espantadas pelo encontro de várias pessoas estranhas no ônibus, no metrô e nas ruas. Mais verdade é, no dia de hoje, o aforismo que nem todos os doentes ficam dentro do hospício.

Um abraço.

Alain Brabant

Luciana disse...

Estou contigo e não abro!

Anônimo disse...

Uau...! Vc mudou o layout da página, ficou show...parabéns!!!
É isso aí...a mudança é inexorável.

Anônimo disse...

Li esta manhã o artigo de Ligia Costa Leite. Ela explica muito bem uma parte do fenômeno da presença de jovens andando à toa nas ruas de Montreal, buscando ninguém sabe o quê.

Um abraço.

Alain Brabant